Quando o Clube de Futebol Estrela da Amadora foi declarado insolvente em 2009, poucos acreditavam que o futebol voltaria à cidade. Mas um grupo de adeptos que de repente ficaram “orfãos” de clube juntou-se para voltar a construir uma equipa. Sem qualquer experiência em gestão desportiva, os donos do novo Clube Desportivo Estrela veem a equipa e o apoio popular crescerem jogo a jogo.

Todos os dias, depois do trabalho, Rui Silva vem até ao estádio José Gomes, junto à estação de comboios da Reboleira. Nas horas livres, é o presidente do Clube Desportivo Estrela e trata do trabalho administrativo e de secretaria. Se for preciso, também arregaça as mangas para pintar os muros ou limpar os balneários.

O Desportivo Estrela foi fundado em 2011, um ano depois da extinção do Estrela da Amadora, pelo movimento de adeptos Sempre Tricolores. Alugou o campo que em tempos pertenceu ao clube histórico e tenta, a pouco e pouco, devolver àquele espaço as glórias de um passado que inclui nomes como os de Fernando Santos, José Mourinho ou Jorge Jesus.

Uma história com 87 anos

Amadora, 22 de janeiro de 1932. Sete jovens reúnem-se na taberna de Francisco Caldeira Abreu, uma das mais concorridas da época. Num clima de entusiasmo inspirado pelo Lusitano da Amadora, entretanto extinto, decidiram fundar um novo clube. Na história que viriam a contar para a posteridade — e que ficou registado num documento distribuído aos sócios nos anos 90 — foi um dos jovens, Júlio da Conceição, que ao olhar para o céu estrelado “irradiando um clima de confiança e de vitória”, decidiu o nome. Nascia assim o Estrela da Amadora Futebol Clube.


Hino do Estrela da Amadora

Nos primeiros tempos, jogavam no campo de aviação da Amadora e pagavam sete escudos (3,5 cêntimos) por cada jogo. A quota cobrada aos sócios era de cinco tostões (menos do que um cêntimo) semanais e o clube vivia em grandes dificuldades financeiras, não tendo sequer capacidade para comprar equipamentos completos. Ainda assim, o primeiro jogo aconteceu no dia 25 de abril desse ano. Com equipamentos emprestados por outro clube local, defrontaram o Palmense, que ainda hoje existe, e ganharam por duas bolas a uma.

Com o tempo, o clube deixou a taberna e alugou sede própria na Rua 5 de Outubro, bem no centro da Amadora. Em 1940 foi registado como Clube de Futebol Estrela da Amadora e fez a primeira época oficial em 1942/43 na Terceira Divisão Distrital da Associação de Futebol de Lisboa.

O ano de 1942 ficou ainda marcado pela aquisição do primeiro campo oficial. Por uma renda de 12 mil escudos (cerca de 60 euros), o Estrela passou a jogar num terreno da Venteira. Este campo viria a desaparecer nos anos 50 depois de um longo litígio com a Igreja Católica que envolveu duas idas a tribunal. O clube aceitou ceder o campo para a construção da igreja matriz da Amadora e, em troca, foi-lhe cedido, em 1957, o campo da Reboleira onde está hoje o Estádio José Gomes.

Ainda nessa década, a situação financeira do clube ficou tão grave que Sporting Clube de Portugal chegou a propor um contrato de filiação, mas as campanhas realizadas junto dos sócios conseguiram adiar o problema. Os anos 60 foram igualmente marcados pelas dificuldades económicas em que a guerra colonial mergulhou o país, mas as maiores adversidades viriam a ser sentidas pelo clube nos anos 70.

Em 1976, o Estrela da Amadora estava reduzido a um campo pelado, uma sede degradada e uma carrinha velha para transportar os jogadores. Sobravam 850 sócios e um único funcionário, o guarda do campo. A equipa sénior permanecia nas distritais, todos os escalões jovens (com excepção dos juniores) tinham desaparecido e o ténis de mesa era a única modalidade que subsistia.

Foi neste ano que José Gomes assumiu a presidência. Tendo já trabalhado em várias direções, começou a reformular o clube. Criou o bingo, que chegou a empregar 80 pessoas e foi a maior fonte de receita da história do clube, e apostou em modalidades amadoras como o judo, a esgrima, a ginástica e a pesca desportiva. Em duas épocas, o futebol sénior subiu à 2ª Divisão e dez anos mais tarde, na época 1987/1988, alcançou a 1.ª Divisão.

O oitavo lugar na primeira época ao nível dos melhores do país foi o último grande feito que viu. José Gomes morreu em outubro de 1989. Deixou como legado um estádio para 25 mil pessoas, uma frota com dois autocarros e duas carrinhas, um clube com 60 empregados efetivos e 19 500 sócios. Pelo seu clube passaram nomes como Fernando Santos, José Mourinho, Jorge Jesus, Paulo Bento e Abel Xavier.

Mas o maior triunfo do Clube de Futebol Estrela da Amadora aconteceu oito meses mais tarde. A 3 de junho de 1990 conquistou a Taça de Portugal.

João Alves foi o treinador que comandou a equipa vencendora. “Foi uma alegria imensa. Quer dizer, não há palavras para descrever. Ser campeão da Taça de Portugal num Benfica, num Sporting ou num Porto é uma coisa, ganhar num clube que era o quarto clube de Lisboa — porque havia também o Belenenses — era difícil… E foi difícil conquistar a Taça de Portugal, mas foi ganha com todo o mérito”.


Imagens do dia da Taça

Nas imagens que passaram na televisão, vê-se o estádio do Jamor cheio, com muitas camisolas e bandeiras tricolores — vermelho, verde e branco, as cores do Estrela — que contrastavam com o preto e branco do Farense. Esta foi a segunda vez que o Jamor se encheu para receber as duas equipas. Uma semana antes, a 27 de maio, tinha-se realizado a primeira final que acabou em empate no prolongamento.

Desta vez, o marcador foi inaugurado aos 30 minutos. Paulo Bento, com apenas 20 anos, remata e surpreende o guarda-redes, Lemajic, que nem tem tempo de sair do centro da baliza. O segundo surgiu pelo pé de Ricardo Lopes, que aos 63 minutos consegue fazer um chapéu ao guarda-redes. Desta vez, o jogo não precisou de ir a prolongamento e Duíli, o capitão do Estrela, recebeu a taça das mãos do primeiro-ministro, Aníbal Cavaco e Silva.

Entre a multidão esteve Fernando Duarte, dono do café Nascer do Sol, um dos pontos de encontro dos adeptos amadorenses junto ao estádio da Reboleira. “Fomos para lá no domingo de manhã e levei umas sandes para o pessoal. Tinha uma Ford Transit com nove lugares. Arranjei nove amigos, fomos todos, e de manhã estivemos lá na paródia. Almoçámos e quando saímos do jogo foi uma grande festa”.

“Estava o pessoal todo dentro do estádio a aplaudir. Vieram os jogadores e foram mulheres, crianças e rapazes, foi tudo vê-los e aplaudí-los”, recorda Arlete Tubal, antiga dona do quiosque ao lado do estádio.

A comerciante mudou-se para a Amadora em 1975 e lembra-se bem de ver o clube a crescer e o estádio a ser construído. Recorda com saudade o tempo do “nosso Estrela”, o clube de bairro que era uma “brincadeira” e toda a gente ia ver.

“O fim do Estrela foi ele ir para a primeira divisão e meterem-se para lá os homens do dinheiro”, afirma. “Deixou de ser o nosso Estrela”, lamenta.

Afundar do clube

Na época de 2008/2009, os problemas financeiros do Estrela tornaram-se evidentes e levaram à descida de divisão do clube da Amadora. Ocupava o 11º lugar da tabela e a descida permitiu ao Belenenses permanecer na Primeira Liga.

O clube foi declarado insolvente a 29 de setembro de 2009 pelo Tribunal de Sintra. Na altura, o dirigente era António Oliveira. “[O Estrela da Amadora] apresentou-se à insolvência, alegando, em síntese, que se encontra impossibilitado de cumprir pontualmente as suas obrigações, uma vez que não detém meios próprios ou de crédito”, lê-se na sentença emitida pelo Juízo do Comércio, citada na altura pela Agência Lusa.

O documento revela ainda que o valor dos bens imóveis do clube, para efeitos fiscais, era de 5 526 510 de euros, enquanto que as dívidas atingiam os 11 508 475,81 de euros.

Mas os problemas financeiros já se arrastavam há vários anos. Em 2005/2006, o Estrela acumulava de anos anteriores um prejuízo de mais de 8 milhões de euros. No final da época tinha acrescentado 1,34 milhões, acumulando 10,4 milhões em prejuízo, segundo o relatório de contas a que tivemos acesso. O clube devia 1,1 milhões a fornecedores, 5,8 milhões ao Estado e tinha ordenados em atraso no valor de 167,7 mil euros.

Já em 2006/2007, o documento mostra que, nessa época desportiva, os prejuízos aumentaram em 1,5 milhões, totalizando 11,9 milhões de euros em prejuízos acumulados. A dívida ao Estado aumentou 800 mil euros, mas pagaram o necessário à Inspeção Geral de Jogos para manter o Bingo a funcionar.

No último jogo de seniores do Estrela, em maio de 2010, o clube foi derrotado pelo Real Massamá, em casa, por 1-0.

António Oliveira, o último presidente do Estrela da Amadora assegura que desconhecia a situação “caótica” do Estrela quando assumiu o cargo, depois de ter ganho as eleições a 29 de dezembro de 2003.

“Os clubes viviam um bocado à margem e o Estrela não entregava contas ao Estado há três ou quatro anos”, garante, acrescentando que a situação se inverteu quando chegou ao clube: “Quando entrei, comecei a mexer nas coisas. Mandei logo fazer uma auditoria, que só há bem pouco tempo é que deu frutos”.

António Oliveira diz lamentar não ter conseguido “levar o Estrela para a frente”, recordando “o que falhou em direções anteriores”: “penso que aquele clube não tinha necessidade de ter passado pelo que passou, se tivesse havido uma gestão mais cuidada”, afirma.

A rutura que “matou” a Reboleira

“Foi comigo que acabou. Vou viver com isso até morrer”, declara António de Oliveira, que exerceu as funções de presidente do clube durante cerca de seis anos, até à extinção em 2010. No entanto, refere que não tem dúvidas que “alguém quis que o Estrela acabasse”, remetendo a culpa para as administrações anteriores, como a de José Maria Salvado, condenado a seis anos de prisão em 2017 por peculato e falsificação de documentos, crimes cometidos enquanto era presidente do clube.

António Oliveira critica ainda a indiferença tanto da Liga Portuguesa de Futebol Profissional como da Câmara Municipal da Amadora. “Nunca a Liga se preocupou em ver até que ponto o Estrela estava a ser prejudicado nesta situação”, argumenta, acrescentando que “a Câmara também nunca se preocupou em ver porque é que a dívida não baixava”.

Também João Paulo Ribeiro, jornalista da Rádio Renascença e antigo membro do Conselho Fiscal do Estrela da Amadora, aponta o dedo à Câmara, acusando-a de ter virado as costas ao desporto da cidade. “O desporto na Amadora passou para último plano, porque aqui o que interessa é o imobiliário e o cimento”, refere.

João Paulo Ribeiro  testemunhou de perto o fim do clube da cidade onde nasceu. Foi “uma angústia enorme”. As dívidas eram “cada vez maiores” e “não havia nada a fazer”.

Foi com este mal-estar dentro de portas que o Clude de Futebol Estrela da Amadora se foi aproximando do fim. António Oliveira ainda propôs a criação de uma SAD, mas foi-lhe negada e o clube ficou sem opções. Foi extinto em 2010. Quase uma década depois de se ter afastado do Estrela, recorda com tristeza os anos que passou na direção do clube e confessa que evita passar na Amadora, porque “a tristeza é muita”. “A cidade morreu”, conclui, emocionado.

A opinião é partilhada pelos locais. Fernando Duarte, proprietário de um café na Reboleira, relembra que “quando jogava o Estrela, havia mais movimento e aos domingos de manhã era uma alegria”. Já Guis, estrelista ferrenho, assume: “durante dois anos não passei aqui [no Estádio José Gomes]”.

José António, 71 anos, considera que o encerramento do clube resultou no “isolamento da cidade”. “Vinha aqui o Benfica, o Porto, o Sporting. Dava uma grande vida à Amadora. A cidade está mais pobre”, remata. Horácio Graça, de 73 anos, diz que nunca foi “um adepto de primeira divisão, porque já sabia o que ia acontecer”, referindo-se aos interesses que acompanharam a ascensão do clube.

Arlete Túbal, que tem agora uma retrosaria na Reboleira, junta-se a José António: “O Estrela só era giro na segunda divisão. Vinham as famílias, era mais regional. Depois começou a levantar-se o valor do dinheiro e pronto, acabou o Estrela”.

Os negócios locais também foram afetados pelo fim do Estrela. O restaurante Del Negro, outrora um dos mais movimentados da zona, sentiu a queda na procura. Vítor Sousa, um dos sócios-gerentes do estabelecimento, recorda que o Estrela era “um dos únicos clubes na primeira liga em que os sócios podiam sair ao intervalo”, o que dava “um movimento muito grande” ao seu restaurante.

O renascer do Estrela

Em junho de 2018, a maioria dos residentes e comerciantes da Reboleira não acreditavam que o clube pudesse regressar. “Não vejo grande futuro. Não há aquele entusiasmo que havia antigamente”, comentava Fernando Duarte.

Na altura já funcionava no estádio José Gomes o Clube Desportivo Estrela. Fundado a 28 de setembro de 2011, o clube alugou o campo e parte das instalações à massa insolvente do extinto Clube de Futebol Estrela da Amadora e começou a trabalhar.

A iniciativa partiu de um grupo de adeptos, que sem qualquer experiência em gestão desportiva, decidiram fundar um novo clube que continuasse o legado do antigo Estrela. 

“Eu, como muitos outros meus colegas, éramos sócios do Clube de Futebol Estrela da Amadora e este era o nosso único clube. Com a extinção do clube por causa do processo de insolvência, nós ficámos, digamos assim, órfãos do nosso clube de coração e quisemos fazer algo a que nós chamamos de refundação”, conta Rui Silva, advogado de profissão e presidente do Estrela nos tempos livres. “Só tínhamos a bancada, não havia condições nenhumas”, recorda.

Com o objetivo de “voltar a pôr o Estrela da Amadora no mapa”, começaram por apostar na formação das camadas jovens e em modalidades como o ténis de mesa e o atletismo. No futebol, foram conseguindo “aos poucos e poucos” acrescentar mais escalões e, no início do verão de 2018, ficava apenas a faltar a equipa sénior.

“Vai trazendo devagarinho muitas pessoas. Está a crescer”, conta Vítor Sousa, um dos donos do restaurante Del Negro. “Nada comparado ao que era, mas é totalmente diferente diferente de quando esteve uns quatro ou cinco anos sem ninguém”.

E cresceu mesmo. Em agosto de 2018, a pouco mais de um mês do início da época desportiva, o Clube Desportivo Estrela anunciou aos adeptos a abertura de uma equipa sénior para competir no campeonato Distrital da Associação de Futebol de Lisboa.

Seguiram-se os treinos de captação que foram abertos à comunidade e por onde passaram “cerca de 250 jogadores” na primeira semana. Formar uma equipa nestas condições não foi uma tarefa fácil para o treinador Ricardo Monsanto. Com muitos jogadores em cada treino de hora e meia, o técnico — que já passou por clubes como o Estoril Praia e o Real Massamá — teve de fazer escolhas e admite que até podem ter acontecido “injustiças”.

Ricardo Monsanto treina a nova equipa de seniores do Estrela

“Selecionar uma equipa assim não é fácil. Eu praticamente demorei um mês a selecionar o plantel e acabei por perder o tempo que seria de pré-época. A minha pré-época está a ser a própria competição”, explica enquanto brinca com um porta-chaves. Está com pressa. O treino começa em dez minutos e acabou de se reunir com a sua equipa na cabine dos técnicos, uma sala sem janelas e com um portão de ferro verde queimado pelo sol, mas com várias dezenas de taças, troféus e bandeirinhas que evocam o passado histórico do clube.

Foi essa história que o levou a aceitar o cargo, garantido que só abraçou o projeto de refundar a equipa sénior “única e exclusivamente” por ser o clube que é. “Vi tanta gente com tanta qualidade a treinar o Estrela que eu acho que já consegui um lugarzinho na história do Estrela por uma coisa. Por ter tido a coragem de começar uma equipa sénior do zero”, afirma.

Está na hora do treino. O treinador levanta-se para ir pontualmente encontrar com os jogadores no campo, mas não antes de deixar bem claros os objetivos da época. “O primeiro objetivo da época era criar uma equipa que fosse competitiva, que não fosse uma equipa de café. Foi concretizado. Segundo, é ganhar jogo a jogo.”

Com uma carreira de 30 anos no futebol, Marques da Silva estreou-se nas distritais para fazer renascer o Estrela da Amadora

É Marques da Silva quem toma a palavra em seu lugar. Com uma carreira de mais de 30 anos em futebol, já passou por todas as divisões e nesta época, a convite do mister, estreou-se nas distritais. Não tinha noção das dificuldades que iria encontrar. “Esta é uma realidade que eu nunca sonhei encontrar.  A todos os níveis. A nível de deslocações, a nível de campos, a nível de tudo”, admite.

As dificuldades, conta o responsável do futebol sénior que faz a ligação entre a equipa técnica e a direção, começam no campo. Com apenas um campo relvado natural para todos os escalões treinarem diariamente, este é, atualmente, o “maior problema” do clube.

O segundo problema tem a ver com o protocolo de utilização do estádio. O José Gomes pertence à massa insolvente do Clube de Futebol Estrela da Amadora. O novo clube está a alugar uma parte do espaço, mas a restante área — incluindo as antigas instalações do futebol profissional — está fechada e não se sabe quando vai poder ser utilizadas ou em que estado está.

“Estamos aqui sentindo que isto é a nossa casa, mas não somos propriamente proprietários e sente-se, de certa forma, às vezes, um desconforto”, desabafa Rui Silva, atual presidente do clube.

Encontramo-lo junto ao campo. Todos os dias, depois do trabalho, Rui Silva vem até ao estádio. “Vestimos o fato quando temos de ter alguma reunião institucional, vestimos a roupa de trabalho e arregaçamos as mangas quando temos de pintar algum muro ou limpar um balneário ou vestimos a camisola tricolor e vamos para a rua correr”, diz com um sorriso. Olha para o relógio. “Daqui a bocado tenho de ir fechar as luzes, porque não temos funcionários para fazer isso.”

A questão do dinheiro continua a pairar sobre o clube, mas o presidente garante que a situação está controlada. “Havia um estigma muito forte sobre o Estrela porque entrou em insolvência e devia a toda a gente. Nós temos as contas equilibradas. Não é um clube que viva desafogadamente, mas esse não é o nosso problema.”

Apesar de todos os obstáculos, o Estrela está mesmo de volta ao campeonato sénior. Compete na 1.ª Divisão, Série 2 do Campeonato Distrital de Futebol da Associação de Futebol de Lisboa. No primeiro jogo em casa, no dia 7 de outubro, estiveram cerca de 1200 pessoas no estádio. As bancadas encheram-se de camisolas, cachecóis e bandeiras tricolores, umas do antigo Estrela e outras do novo. O José Gomes acordava de novo e com razões para celebrar: a equipa da casa ganhou por 2-0 aos visitantes, o Ass. Torre.

Tricolores para além do apito final

“Arrepiei-me ao máximo, saíram-me lágrimas, foi uma emoção”, dizia Carina Valente à saída do estádio. “Isto agora foi o reviver da história de antes. Foi o renascer do Estrela.” Ao lado de Carina, estava o marido. “É uma sensação muito complicada a gente voltar aqui a este estádio e ver que ainda há uma luz ao fundo do túnel para isto realmente ser o que era o Estrela”, afirmava Ricardo Valente. Ex-habitantes da Amadora, o casal veio da Covilhã com toda a família — todos equipados a rigor com cachecóis — para ver o jogo.

Quando a multidão desaparece no fim do jogo, ficam para trás alguns dos frequentadores mais regulares do estádio. A claque dos Ultras, que muito se fez ouvir durante o jogo, foi fundada em 2005 e regressou para apoiar o novo Estrela. Para eles, o prolongamento é ajudar na limpeza depois dos 90 minutos.

“A gente está cá para apoiar, seja na primeira, na segunda ou na última liga”, garante Marco Fernandes, o líder que também recolhe copos e papéis por entre as cadeiras.

“Acho que a Amadora acordou um bocadinho”, comenta e confessa que não estava à espera que tanta gente se mobilizasse para ir ver o jogo.

Comovido com o regresso oficial do Estrela, mantém, no entanto, os pés bem assentes na terra, pois sabe que o caminho que tem pela frente é complicado. “Este futebol é um futebol que a gente não estava habituado a ver. Vai ser difícil.” O que não impede que nas bancadas se sonhe já com o regresso à 1.ª Divisão.

Para já, o clube está a aumentar o número de sócios. Entre o anúncio da formação da equipa sénior e o primeiro jogo somaram-se 300 novos sócios, totalizando-se 1600 no arranque da época.

A popularidade do novo Estrela vê-se também nas redes sociais. A página oficial no Facebook conta já com 11,7 mil seguidores e faz atualizações diárias sobre as várias equipas e modalidades.

Quanto ao futebol, segue-se, nas palavras de Marques da Silva, com a consciência da “responsabilidade” que é vestir a camisola tricolor. “Não nos esquecemos do passado, mas estamos muito mais focados no futuro.”