Em 2022, o programa Erasmus comemora 35 anos. Ao longo do tempo, milhares de jovens puderam desfrutar de partilhas interculturais, expandir o seu conhecimento num país diferente e colecionar tanto aprendizagens, como memórias. Só em 2020, cerca de 640 000 pessoas embarcaram em experiências de mobilidade, em cerca de 20 400 projetos de educação, programas de estágio, e até voluntariado.

A participação de Portugal parte de 25 estudantes que foram para o estrangeiro em 1987 e evoluiu de forma positiva: hoje são mais de 10 000 os que se aventuram pelo mundo.

“Erasmus – A evolução em Portugal”

O programa Erasmus + engloba 33 países europeus, dos quais fazem parte os 27 estados-membros da União Europeia, a Macedónia, a Islândia, o Liechtenstein, a Noruega, a Sérvia e a Turquia. 

Espanha e Itália são os países que, anualmente, tendem a ser os destinos de eleição dos estudantes portugueses. No entanto, os países de leste são, também, cada vez mais escolhidos. Atualmente, a Polónia é o terceiro país mais procurado. São os três destinos que recebem o maior número de portugueses em mobilidade, mas, também, os que enviam mais estudantes para Portugal.

Uma Europa, várias experiências

O programa Erasmus (European Region Action Scheme for the Mobility of University Students) é um projeto dedicado à educação, formação, juventude e desporto. Desde 1987, coordenado pela Comissão Europeia, une países em todo o mundo, permitindo uma comunidade com uma identidade europeia. 

Juntam-se agora 137 países na construção de um caminho evolutivo para a educação superior. Os objetivos principais do programa são a melhoria da qualidade e da sensação de dimensão europeia na educação, a cooperação e mobilidade na Europa, e a facilidade de obtenção de qualificações e reconhecimentos académicos na União. Este projeto promete uma experiência internacional, vivências únicas e crescimento pessoal. A procura por um ensino diferente que se cruza com uma mudança cultural. As adaptações associadas a uma mobilidade são o maior desafio, pelo que encoraja os estudantes a se porem à prova.

O programa da União Europeia foi buscar o seu nome ao Renascimento, época em que Erasmo de Roterdão, a base deste projeto, nasceu. Pioneiro na utilização de tipografia com caracteres móveis, este filósofo holandês foi um dos primeiros a difundir as suas ideias e expandir conhecimentos pela Europa. Com base na sua jornada e importância para o humanismo, o sistema de mobilidade proporciona um intercâmbio cultural, que marca os jovens e adultos com memórias únicas, assim como fomenta a vontade de conhecer cada vez mais.

Uma comunidade de histórias

A ideia de que o Erasmus é só para universitários, está errada. Na verdade, todos os estudantes da União Europeia que estejam inseridos num programa de estudos há pelo menos um ano podem realizar um intercâmbio. Dentro de 12 meses, o aluno pode escolher entrar em vários programas durante o seu tempo de estudos. A faixa com mais participações é entre os 13 e 30 anos de idade. 

Muitas são as histórias e as memórias que os jovens vão colecionando quando estão em Erasmus. A Rita Abreu, a Inês Moutinho e o Brom são três estudantes que decidiram embarcar este ano na aventura que o programa europeu proporciona. Todos em fases diferentes de mobilidade – a Rita a fazer a mala para Roma, o Brom a desfrutar da cidade do Porto e a Inês já em casa depois de um semestre na Eslovénia -, mas todos com uma experiência em comum: estudar e viver fora, em Erasmus.

Rita Abreu, aluna de Bioengenharia da Universidade Católica do Porto. Em setembro, irá para Roma desfrutar de um semestre de Erasmus.

A Rita, com os seus 20 anos, decidiu que era altura de fazer intercâmbio. Prepara tudo ansiosamente para que, em setembro, Roma seja a sua nova casa. De Portugal para Itália ainda são uns quilómetros, mas a aluna tem expectativas altas face ao futuro Erasmus. O entusiasmo com o país e cultura que a esperam, juntam-se aos desejos de fazer novas amizades e criar memórias, à semelhança de outras histórias de mobilidade que ouve. 

No avião, a mala da Rita transporta ambições e vontades, mas os pés estão assentes em terra quanto aos desafios e à realidade que pode encontrar. Como em todas as histórias, há sempre dois lados. Por isso conhecemos a Rita, uma jovem com alguma incerteza de quem ainda parte nesta aventura, mas também Brom e Inês, estudantes para quem Erasmus já consta na lista de experiências de vida.

Brom, aluno sentado no 3° lugar à direita, numa Noite de Fado, organizada pela Erasmus Student Network.

Dos Países Baixos para o Porto, chega Brom. Um dos milhares que Portugal recebe em mobilidade. Aos olhos do estudante de 23 anos, a nossa cultura e ensino distinguem-se das que está acostumado. Desfrutou do período de mobilidade, mas sentiu falta das avaliações progressivas dos conhecimentos, o que lhe permitiria melhorar e conhecer as suas maiores dificuldades. Brom destaca que o feedback construtivo dos docentes é muito presente na sua faculdade de origem, algo que valoriza para um maior sucesso académico, mas que não vê em Portugal.

Em Portugal, gostou da vida social dedicada a todos os alunos e nacionalidades, não havendo uma separação notória entre locais frequentados pelos nacionais e os mais dirigidos à comunidade internacional. Em Erasmus, a dinâmica dos espaços sociais tem um grande impacto, pois permite convívios mais relaxados e divertidos. Para Brom, o fácil relacionamento extra-aula entre estudantes é uma das partes da experiência que mais valor tem. Além disso, refere o papel que as pessoas que conhecemos podem ter como grandes amigos e como uma rede de contactos que estabelecemos nos é útil no mercado de trabalho. O custo de uma mobilidade é o que impede muitos jovens de a realizar, mas o valor que se retira destes meses é mais elevado, pelo que, se for possível, aconselham a que a façam.

Inês Moutinho, estudante de Comunicação Empresarial no Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto. Esteve em Erasmus na Eslovénia, no 2º semestre do 2º ano.

A Inês dá também voz à experiência. Com 19 anos, fez mobilidade durante o 2º ano de Comunicação Empresarial, em Maribor, na Eslovénia. Abrir horizontes, expandir conhecimentos e abraçar a experiência foram o mote da vida académica e social da estudante no estrangeiro. Na faculdade teve menos aulas por unidade curricular, mas com uma maior carga de trabalhos em avaliação contínua e exame final obrigatório. Inês adaptou-se e renovou os seus métodos de estudo para estar mais focada em todas as fases de avaliação e corresponder aos novos objetivos propostos. Ao estudar num país diferente, com o acréscimo do inglês como língua de ensino, a procura por ideias “fora da caixa” e de âmbito internacional ganham mais força e despertam o interesse dos professores e colegas. A jovem esforçou-se por abrir as suas perspetivas e ouvir os pontos de vista dos demais estudantes, o que descreve como enriquecedor.

As diferenças culturais sentiram-se a nível social, mas fizeram-na crescer a nível pessoal, assim como toda a experiência. Partilhou casa com pessoas que não conhecia, viajou sozinha e acompanhada de novas amizades, e "desinibiu-se” perante todos os desafios diários que surgiram. A Eslovénia pode ter sido um choque inicial, mas o tempo e a integração com as pessoas e cidade fizeram Inês não querer largar o seu destino Erasmus.

A estudante destaca as viagens que fez a partir da Europa Central, dada a acessibilidade de transportes e proximidade dos destinos face a Portugal. Mais responsável e autodidata, conheceu toda a Eslovénia, a Áustria, a Croácia, a República Checa, a Bósnia, a Itália, a Hungria, e a Polónia. Erasmus levou Inês de Portugal para o Mundo e com um “bichinho” por embarcar de novo numa próxima fase dos seus estudos.

“Um olhar da experiência” - Galeria de fotos Inês

Viver uma experiência Erasmus é sinónimo de aventura, novas amizades e momentos inesquecíveis. Para fomentar essas vivências, existem organizações relacionadas com o programa Erasmus + que promovem diversos eventos e iniciativas para os estudantes em mobilidade. A Erasmus Student Network (ESN) é uma delas e existe em todas as cidades europeias que recebem alunos Erasmus.  

Podemos contar histórias e expressar o que sentimos em mobilidade, no entanto, nunca será o reflexo perfeito do que foi vivido. A ESN do Porto, ao acompanhar os estudantes do ano letivo de 2021/22 em várias experiências pela cidade, captou, também, esses momentos em fotografias para que todos pudessem guardar como recordação e retratar ainda melhor essas memórias.

“Carrossel de experiências” - Galeria de fotos ESN