As escolas são muitas vezes cenário para um primeiro contacto entre os jovens e o ativismo. As palestras e as atividades apresentadas aos alunos podem motivá-los a escolher as suas causas e a lutar por elas. É com esta intenção que várias associações dinamizam sessões de esclarecimento em contexto escolar, mostrando aos mais novos os espaços em que podem participar e fazer ouvir a sua voz.

A Amnistia Internacional foi, para muitos leirienses, a primeira organização a aproximar os jovens da participação cívica, a incentivar jovens a exporem as suas opiniões e a lutarem contra aquilo que consideram incorreto ou injusto. Sofia Caseiro, vice-coordenadora e porta-voz do Grupo Local de Leiria, explica que um ativista é “qualquer pessoa que tenha vontade e que fale para fazer a diferença naquilo em que acredita”. Partilha, a par de outros ativistas de associações leirienses, a sensação de que a juventude quer ver mudanças, porém, não é só a vontade dos jovens que interessa, também é necessário criar espaços para que possam participar ativamente na sociedade. 

“Um ativista é qualquer pessoa que tenha vontade e que fale para fazer a diferença naquilo em que acredita”.

Sofia Caseiro, vice-coordenadora e porta-voz do Grupo Local da Amnistia Leiria

Camila Coelho, também com funções de coordenação do Grupo Local da Amnistia Internacional, considera que o que diferencia as pessoas é o esforço que dedicam às causas. Enquanto o jovem comum é capaz de participar numa ação que exija uma simples publicação nas redes sociais, o ativista sai à rua e dedica “mais tempo à defesa das causas”. A título de exemplo, a ativista lembra o movimento Black Lives Matter, que ocupou as redes sociais, incentivando as pessoas a publicarem a imagem de um simples quadrado preto. A adesão, de forma massiva, transformou os feeds em sucessivas manchas negras. Contudo, quando a luta exige mais empenho, grande parte das pessoas parece desistir.

“[Os jovens] querem grandes coisas, querem grandes mudanças e querem que o mundo revire, que seja mais fácil para eles e para os outros viverem”.

Camila Coelho, coordenadora do Grupo Local da Amnistia Internacional em Leiria

Camila Coelho sublinha a importância da adesão dos jovens aos movimentos que têm expressão no mundo digital, mas refere que não pode ficar apenas por aí: “Isso é ativismo, é trazer para a atenção a questão, só que, depois, quando envolve mais do que só um retweet ou um post de Instagram, já lhes custa um bocadinho. Eles têm a intenção, querem fazer as coisas, querem ver o mundo mudar”.

Grupo Local da Amnistia em Leiria

Ativismo e privilégio

Laura Quitério, do Movimento LGBTI Leiria, refere que, para além do esforço, “há um lado de privilégio para se poder ser ativista”, porque é necessário estar “num patamar da sua vida com disponibilidade emocional, económica e de tempo para participar ativamente”. Além destas características, e com base na sua experiência de defesa dos direitos LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero, Queer, Intersexo, Assexuais e outras identidades de género ou orientações sexuais), Laura destaca também a importância do autoconhecimento. “É preciso ter tudo bem resolvido com a minha vida e com a minha sexualidade ou com a minha identidade de género, e eu entendo que muitos jovens adultos não tenham ainda essa capacidade”, refere a ativista. 

“Temos de estar preparados para lidar com sentimentos de desespero e de injustiça, e isso é importante, as pessoas precisam de saber que têm de ser resilientes e que têm de ter capacidade de trabalho e de foco para conseguirem fazer ativismo”.

Mariana Violante, membro do Grupo Local da Amnistia em Leiria

A vontade de mudar o mundo para melhor parece não faltar nos jovens, mas qual a solução para aumentar o seu envolvimento? Sofia Caseiro aponta a necessidade de enquadrar e promover o ativismo desde a infância, em particular ao longo do percurso escolar, algo que não acontece atualmente. “Ninguém nos diz durante todo esse percurso o que nós podemos fazer além daquilo que é suposto ser a nossa vida no futuro, o envolver-nos com a comunidade”, explica. Com a normalização de uma atitude ativista, surgirá naturalmente a motivação para participar, sem que isso seja visto como um esforço extra, mas antes como um direito.

Independentemente das dificuldades e exigências do ativismo, ainda há quem se levante todos os dias com o desejo de fazer a diferença e lutar pelas suas causas. A mensagem é, por isso, otimista. “Apesar de tudo o que é desesperante quando falamos de defesa de direitos humanos, também é quando se faz ativismo que se percebe a diferença que se pode fazer em muitas coisas e diferenças muitas positivas”, explica Mariana Violante. Isso é algo a manter sempre em mente até porque, como defende, “um ativista triste é um triste ativista”.