REC – Redação em Construção

Pedro Miguel Santos, jornalista e editor do programa, sobre o bonito que é criar uma redação

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Ninguém escolhe ser jornalista esperando ficar rico. Bem sei que é uma lapalissada, ainda assim, não deixou de me surpreender a dedicação e entrega das alunas e aluno que tornaram possível o episódio 41 do REC – Repórteres em Construção. Comecemos do início.

Corria o mês de outubro de 2021 e a Teresa Abecasis enviou-me um email-convite para editar o programa a transmitir em maio deste ano. Não tive como escapar. Um ano antes tinha-me ligado com a mesma proposta e tinha recusado, por estar nessa altura cheio de afazeres profissionais. Desta vez, teria de conseguir conciliar tudo. E a minha camarada de redação, Margarida David Cardoso, que já se tinha entregado a tal tarefa, bem me avisou que ia ser trabalhosa.

Vários encontros depois, horas e horas de reuniões zoom, dezenas de mensagens trocadas em grupos de WhatsApp, chegámos ao resultado final, que podem ouvir aqui e também em artigos autónomos, com mais contexto, fotos ou vídeos, que não cabiam nos cerca de quatro minutos que cada grupo tinha como limite máximo para a sua peça áudio.

Coser a manta de retalhos que une os trabalhos feitos em Leiria, no Porto, em Vila Real, em Viseu e em Lisboa precisou de uma boa dose de criatividade, tempo e empenho. Foi essa dedicação que mais me tocou, em todo o processo. As alunas e o aluno repórteres meteram-se nisto de forma voluntária, abdicando do seu tempo livre para sair em reportagem mas, também, para participarem na edição coletiva das suas ideias e das propostas dos outros grupos.

Professoras e professores, com camaradas jornalistas à mistura, foram orientando o processo, dando dicas, ajudando a resolver os percalços surgidos. Tudo nas nossas horas livres, em tardes de sábado que começavam depois de almoço e se esticavam até próximo da hora de jantar.

A pouco e pouco, as histórias foram ganhando vida, consistência. Num desses fins de semana a partir pedra, depois de ouvirmos brutos já gravados no terreno, discutirmos questões deontológicas ou imaginarmos versões multimédia para o site, um sentimento bom foi ganhando espaço. Um misto de excitação e orgulho por estarmos a construir o programa, o entusiasmo justo de que as coisas faziam sentido, de que toda a gente se revia na empreitada que ainda tínhamos por terminar. Nas despedidas dessa longa tarde disse à equipa que me sentia numa redação e que essa era a prova de que estávamos a fazer as coisas bem feitas. 

Por melhor que um jornalista escreva, mais faro tenha para sacar cachas, melhor que seja a sua agenda de contatos, nada substitui o que aprende na redação. Os grandes projetos jornalísticos não perduram por causa de estrelas, vivem com elas mas apesar delas. É da intensa troca de ideias entre pares, do questionar constante, das perspetivas novas, da entreajuda entre camaradas que um jornalista constrói e ajuda a construir o meio onde trabalha mas, sobretudo, o jornalismo.

Isto não se aprende nas aulas, em livros ou tutoriais no YouTube. Vive-se fazendo. E, por mais efémera que tenha sido, a equipa que fez esta edição do REC foi, durante algum tempo, uma pequena mas bonita redação. Eu saí muito mais rico de toda esta aventura. E, isso, não há dinheiro que pague. Perdoem-me a lapalissada.