Os portugueses têm tendência a confundir dois grupos distintos na nossa sociedade – os africanos e os portugueses afrodescendentes -, discriminando os cidadãos nacionais, afirma Isabel Castro Henriques.

Isabel Castro Henriques é historiadora e estuda há mais de cinco décadas a relação entre o povo africano e a sociedade portuguesa. Foi professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e falou com o REC sobre a questão da cidadania dos afrodescendentes. Em causa está um preconceito secular reforçado pelo passado colonialista português.

“Dentro dessa categoria vaga do que são os africanos há por um lado todos aqueles que são emigrantes, que têm a sua nacionalidade de origem e são, portanto, africanos a viver em Portugal. Depois há os africanos que já não são africanos, digamos assim, são os chamados afrodescendentes. Têm efetivamente uma origem africana de um tempo histórico mais ou menos longínquo, mas que nasceram em Portugal. São cidadãos portugueses, mesmo que, do ponto de vista da atitude e do olhar dos portugueses, sejam questionados, indiretamente, sobre essa identidade.”

Os marcadores físicos, como a cor da pele, fazem com que, através de uma atitude preconceituosa, alguns portugueses os considerem estrangeiros, e portanto, africanos. Essa “atitude e olhar dos portugueses” são, na sua maioria, resultado da história de Portugal que durante séculos foi uma potência colonizadora, sobretudo em países do continente africano. O colonialismo português foi um momento verdadeiramente importante para o reforço desta atitude por parte dos portugueses em relação aos africanos que depois se transferiu para os afrodescendentes.

Perante este preconceito secular, a historiadora argumenta que devemos criar condições e instrumentos para acabar com esta discriminação, através do ensino, da educação e do conhecimento. “Trata-se de perceber que esses homens e essas mulheres são iguais a nós e que a cidadania não se define através da cor da pele da pessoa. Define-se sim através da socialização de formas culturais, da integração na sociedade e da sua vivência. É necessário eliminar a ideia de que as marcas físicas intervêm na aceitação destas pessoas como portugueses.”