As dores de um amor sobre duas rodas

Alexandre Sabino (ULHT)

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Os amantes das motos integram um grupo coeso, unido pela aventura e pela euforia do cabelo ao vento. Uma paixão que todos sabem trazer riscos. No MotoClube Manjericos de Alfornelos, são poucos os motards que nunca tiveram um acidente. Felizmente, sem gravidade.

Os motociclos têm ganho cada vez mais adeptos. Seja para ir trabalhar ou por simples diversão. Mas o número de acidentes também tem aumentado. Em nove anos, entre 2009 e 2018, o número de acidentes com motociclistas cresceu 39%.

Motas há muitas…

As viagens a exposições de motas, por vezes podem ser atribuladas. As viagens e as companhias… Em 2017, Carlos José viajou com a família e alguns amigos até à Batalha para mostrar a sua mota e no regresso pediu para levar a mota de pista do amigo. Estava tudo a correr bem até que o motard, mais conhecido como Russo, se sentou e percebeu que não chegava ao volante por causa da sua estatura. Russo teve ainda que levar a mulher com ele numa mota que apenas dá para uma pessoa. A dificuldade na condução era percetível, mas mesmo assim seguiram viagem.

Ora essa viagem ficou a meio, uma vez que Russo e a mulher acabaram por cair na estrada. Felizmente não foi grave, mas serviu de lição.

Um pedido (ir)recusável

As paixonetas também podem magoar. António Lopes aprendeu isso com uma pequena viagem. Numa noite de conquista, o motard levava a mulher “à pendura” na mota quando se deparou com um pedido que na altura não conseguiu recusar.

António Lopes autorizou a companhia a conduzir e terminaram a pequena viagem no chão.

Aceitar a dor (e o carro)

Fernando Barros é a prova de que a vontade move montanhas… Neste caso levou o motard à concentração de Faro, mas lesionado. Antes de se fazer à estrada com o MotoClube Manjericos de Alfornelos, Fernando Barros escorregou ao sair da mota e ficou debaixo dela.

Cheio de dores e com o diagnóstico de uma enfermeira que lhe disse que tinha o pé partido, não desistiu e seguiu viagem. Mas não aguentou e teve que fazer o resto da viagem de carro e aproveitou a concentração mais conhecida do país até ao fim, mas de muletas.

Os amigos são para as ocasiões

Mesmo quem não gosta de motas, pode ter grandes episódios em cima de uma mota. Filipe Martins não tem mota, não sabe andar de mota e não gosta de motas, mas viu-se obrigado a ter que ir para a concentração de Faro em cima de uma motorizada.

O plano inicial era ir de carro atrás dos motards, mas viu-se obrigado a ceder o lugar a Fernando Barros, que se tinha magoado. Fez toda a viagem até à concentração num motociclo e descobriu, quando chegou, que afinal também havia lugar para ele dentro do carro. Uma partida de amigos que Filipe não consegue esquecer.

Turismo perigoso

Lisboa está cheia de turistas. A vontade de conhecer a capital portuguesa pode atrapalhar a vida a quem trabalha e Luís Rodrigues não esquece que foi por isso que se magoou. Em 2004, o presidente do MotoClube Manjericos de Alfornelos tinha uma reunião marcada e fez a viagem com a sua mota.

Deparou-se com quatro turistas no meio da rua com um mapa aberto e com toda a delicadeza decidiu não buzinar para não assustar os estrangeiros curiosos. Mesmo com o barulho do motor, os turistas não saíram do lugar e Luís travou mesmo em cima de um carril. O motard caiu e ficou com o pé preso no banco da mota. Depois da queda aparatosa, os quatro turistas disponibilizaram-se para ajudar, mas já era tarde… Luís tinha o pé partido. Ainda assim o dever chamou-o e Luís foi à reunião e só depois seguiu para o hospital.

O “Macgyver” das duas rodas

Dizem que a primeira experiência marca sempre. Para Ricardo Estorninho foi a primeira grande viagem ao volante de uma mota que se tornou num grande episódio. O motard viajou até ao Algarve com apenas dois meses de carta e no regresso a Lisboa caiu com a mota e partiu a embraiagem da motorizada.

Ora com uma viagem inteira pela frente, Ricardo Estorninho só conseguia andar com a primeira mudança na mota. Ricardo “desenrascou-se” e conseguiu fazer metade da viagem. Com fita adesiva, juntou as duas partes da embraiagem e seguiu caminho.

Mas, em Setúbal, o “arranjo” que Ricardo tinha feito acabou por se desfazer de novo. Fez o caminho até à ponte na primeira mudança. Já sem coragem de avançar mais, foi o amigo Fernando Barros que colocou a terceira mudança à mão. Valeu a amizade que ajudou a concluir a viagem com sucesso sem mais incidentes e tornou-se assim numa valente aventura para Ricardo Estorninho.