O consumo de bebidas alcoólicas e de tabaco está, para os jovens, muitas vezes associado à socialização e à integração. Para terem a sensação de pertença ao círculo social onde se encontram, iniciam um hábito que pode ter consequências para o resto das suas vidas.

Há quem comece a experimentar por pressão social, para se integrar os amigos, como conta Gonçalo. Hoje, com 27 anos, e ao olhar para trás, percebe que, aos 15, beber era uma forma de acompanhar os colegas. Agora, o álcool e o tabaco acompanham o seu “estado de espírito”.

“O primeiro motivo é porque faço muitas horas de trabalho e, quando o faço, sinto necessidade de fazer uma pausa e de fumar um cigarro. O outro motivo é o convívio em festas, onde já estou num nível de bebida algo mais elevado e acabo por sentir necessidade de me acalmar e a única forma que eu vejo naquele momento é mesmo fumando um cigarro.”

Lara, atualmente com 21 anos, começou a fumar aos 17. O consumo restringia-se aos ambientes de festa. Parou, porém, por perceber que apenas lhe fazia mal. Na faculdade, alguns anos depois, não sentiu pressão alguma para beber ou fumar. Dá como exemplo a tuna académica, da qual faz parte, e onde há membros que não fumam nem bebem, e que, diz, estão integrados na mesma.

Para compreender a relação dos adolescentes com o álcool e o tabaco, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência conduziu um estudo (divulgado em 2020) em que observou qual era o consumo entre jovens europeus de 15 e 16 anos. Os resultados mostraram que uma larga maioria dos jovens já havia experimentado álcool: 79% respondeu que havia bebido pelo menos uma vez, e 47% disse ter consumido no mês anterior.

Já o número de adolescentes a já ter fumado tabaco, por exemplo, desceu entre 1995 e 2019 de 68% para 42% – uma evolução que deve muito à legislação que desincentiva o seu consumo, apontam os investigadores.

A percentagem de jovens europeus que fumam com alguma frequência também reduziu de 33% para 20%, bem como a daqueles que consomem tabaco diariamente (de 20% para 10%). Os dados apontam, porém, que os cigarros eletrónicos podem ser uma possível ameaça futura: 40% dos inquiridos respondeu já os ter utilizado.

Consumo de álcool aumenta

Os resultados relativos ao consumo de álcool em Portugal seguem uma tendência oposta à observada no consumo do tabaco. Entre os jovens portugueses, houve um aumento no seu consumo, tendo aumentado de 71% em 2015 para 77% em 2019 o número de jovens de 16 anos que já tinham ingerido pelo menos uma bebida alcoólica ao longo da vida. Também mostra-se um acréscimo da embriaguez nos jovens de 18 anos e do “binge drinking”, isto é, do consumo excessivo de álcool em pouco tempo.

Do outro lado desta estatística estão os jovens que aguardam pelo ingresso na maioridade para experimentar. Beatriz, hoje com 21 anos, apenas começou a beber depois dos 18. Naquela altura, já estava na faculdade e decidiu fazê-lo em momentos sociais. Com o tempo, desenvolveu uma curiosidade também para o tabaco – queria saber ao que os cigarros de que alguns dos seus colegas tanto gostavam sabiam. Nenhum dos dois – álcool e tabaco – constitui, atualmente, uma parte essencial da sua vida. À exceção dos momentos de confraternização, não os consome, e não sente falta.

Portugal é o segundo país europeu com maior número de jovens a já terem bebido pelo menos uma vez aos 16 anos. Ao estudo realizado pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, muitos dos jovens responderam terem iniciado o seu consumo aos 13 anos – uma percentagem “consideravelmente superior à media europeia”, classificaram os investigadores.

Esse início para um hábito como é o do álcool e o do tabaco, porém, não deve ser levado levianamente. De acordo com a Coordenação Nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do Uso Nocivo do Álcool, do Ministério da Saúde em 2018, a rede pública portuguesa teve em tratamento mais de 13 mil pessoas por problemas relacionados com o consumo do álcool – 28% dos quais por síndrome de dependência.

Os valores de mortalidade por causa do álcool em 2018 foram os mais elevados desde 2013. O relatório aponta ainda mais 27% de denuncias às comissões de proteção: um total de 385 processos referentes à jovens e crianças que estão em risco devido ao seu próprio consumo de álcool ou do feito pelos outros.

Combater os consumos

O relatório divulgado pelo Ministério da Saúde aponta uma saída para reverter esta tendência: a redução das quantidades disponíveis de bebidas alcoólicas no mercado nacional.

A estratégia que pode ser de opção em Portugal, reflete o plano de ação desenhado pela Organização Mundial de Saúde: “A OMS identificou que as ações mais custo-eficientes para reduzir o uso prejudicial de álcool incluem aumentar as taxas de bebidas alcoólicas, reforçando restrições na exposição do álcool em publicidade, e restringir a disponibilidade física de álcool para venda.”

Artyom, de 20 anos, afirma que, onde estuda, a pressão, existe muito mais na cabeça das pessoas do que no ambiente da festa: “Na praxe, há alturas em que as pessoas começam a passar mal ou veem que já estão a ultrapassar o limite, e são incentivadas a parar ou mesmo obrigadas.”

Artyom já havia bebido antes de entrar na faculdade. Foi durante a sua licenciatura, porém, que experimentou o tabaco, e este não só socialmente, mas como forma de aliviar o seu stress. “Não é tanto da carga de trabalhos”, afirma o estudante de Jornalismo, “há certos momentos em que se deixa as coisas para a última da hora e acontecem certas coisas… O stress começa a acumular e precisas de uma maneira de o soltar.”