Para muitas pessoas, usar tecnologia é sinónimo de carregar num botão para ter uma tarefa facilitada. Mas, para os jovens com deficiência, representa uma conquista diária no processo de construção de uma sociedade mais acessível. Catarina Oliveira, de 33 anos, não tem dúvidas: os desenvolvimentos tecnológicos são “muitas vezes a mudança de vida para muita gente”. Para uma pessoa com deficiência motora, as experiências e rotinas tornam-se mais acessíveis. “A tecnologia permite-nos estar em sítios e fazer coisas que, às vezes, determinados corpos não conseguem fazer por impossibilidade, por deficiências”, afirma a oradora na área da Diversidade e Inclusão.

Poder usar tecnologias significa melhor qualidade de vida. Mas “não é só a tecnologia que proporciona bem-estar”, garante Catarina Oliveira. Reforça que é preciso construir “ambientes acessíveis para todos” para pessoas com deficiência conseguirem ser mais independentes e integradas na sociedade. “A minha deficiência é potenciada por todas as barreiras à minha volta”, explica.

Desde que se sentou na cadeira de rodas, Catarina sente que as pessoas a olham e tratam de forma diferente. Só mais tarde descobriu que esta discriminação tinha um nome: capacitismo. “Continuo a ser uma mulher adulta, mas hoje sou tratada como uma criança. A minha opinião parece que não tem tanto peso e parece que não sou tão capaz de desempenhar tarefas”, conta.

A falta de oportunidades de emprego, de educação e de vida social são os principais desafios que aponta como resultado da “bolha de discriminação que exclui pessoas com deficiência da sociedade”. Catarina Oliveira menciona que as possibilidades são menores. “Não estão fáceis para ninguém, mas para uma pessoa com deficiência ainda menos”. Alerta também para a necessidade de os profissionais de recrutamento saberem entrevistar pessoas com deficiência, promovendo mais contratações e “condições equitativas”.

Este é um problema que tem vindo a mudar no que diz respeito ao quadro legal. Por exemplo, a partir de 1 fevereiro de 2023, as entidades empregadoras com mais de 100 trabalhadores vão ter de garantir que, pelo menos, 1% dos contratos são efetuados com pessoas com deficiência. No entanto, e apesar dos investimentos de entidades oficiais como o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), o mercado de trabalho ainda não cumpriu com oportunidades de emprego equitativas. Em 2021, criaram-se pouco mais de 3700 ofertas de emprego para o total de 13 583 pessoas com deficiência inscritas nos centros de emprego, segundo o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS).

“É quase como não existisse a Catarina em cima da cadeira. Existe qualquer coisa a circular numa cadeira de rodas que nem tem muita opinião sequer”. Mas, para a ativista dos direitos pelas pessoas com deficiência, as barreiras não se ficam só pela forma como as pessoas a percecionam. A ausência de estruturas físicas para recebê-la na cadeira de rodas também é outro bloqueio que arrasta “muitos outras limitações”.

Portadora de mobilidade condicionada, cada percurso tem de ser planeado. É um hábito diário. Antes de sair de casa, Catarina tem de antever se as viagens ou passeios são acessíveis. Tem de verificar “todos os obstáculos” possíveis de encontrar. “Eu não tenho a liberdade de ir e vir que tinha antes. E não é por causa da cadeira, é porque a sociedade não está preparada para me receber enquanto pessoa com deficiência”, adianta.

“De repente, sentei-me numa cadeira de rodas e parece que não posso fazer nada. Não posso ser mãe, não posso namorar, não posso casar, não posso ter o meu trabalho, não posso ser independente, não posso reclamar, não posso querer os mesmos direitos, não posso fazer nada. Eu tenho de me calar, sentar e simplesmente viver ao sabor da ajuda dos outros – e não é assim”.

Catarina Oliveira salienta a insuficiência de infraestruturas também nas escolas e faculdades. “É crucial repensar a forma como as infraestruturas estão construídas e é necessário criar uma acessibilidade em que o aluno esteja propriamente incluído”, menciona a ativista. Este é um dos “grandes desafios” para assegurar a “verdadeira inclusão” dos estudantes.

Reduzir barreiras físicas e estruturais é, por isso, essencial para conseguirem uma “vida mais independente”. Catarina Oliveira reconhece os avanços criados nos últimos anos, mas adverte que “é preciso perceber a acessibilidade que se está a construir”. “Há realmente barreiras que ainda são intransponíveis, mas a tecnologia permite-nos estar em sítios e fazer coisas que, às vezes, determinados corpos não conseguem fazer por impossibilidade, por deficiências”.

Ainda assim, a acessibilidade tem sido construída, também a partir de inovações nas áreas da engenharia e robótica que surgem diariamente. A tecnologia tem desempenhado um papel fundamental na vida dos jovens com deficiência. É o caso da Triride, um equipamento elétrico de propulsão que se anexa à parte frontal da cadeira de rodas e que proporciona a liberdade que as cadeiras de rodas clássicas não atingem.

Este dispositivo recupera autonomia e permite a Catarina circular em qualquer pavimento. “É estar na rua quase como estivesse com os pés, sem pensar onde estava a pisar”, confirma Catarina Oliveira. “Posso ver os monumentos, falar com a pessoa que vai ao meu lado e circular nos vários pisos irregulares de terra, erva e paralelos sem qualquer problema”.

Tecnologias como estas são cada vez mais comuns para expandir a acessibilidade motora. Apenas com uma certificação governamental as pessoas têm acesso a uma comparticipação financeira pelas entidades envolvidas no Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio (SAPA). Porém, a oradora pela Diversidade e Inclusão ressalva que a evolução tecnológica deve estar a par de uma sociedade e ambientes mais acessíveis.