O despovoamento assombra as aldeias portuguesas, mas há quem ainda teime em ficar e alguns regressam mesmo às origens. Viagem pelo país que rema contra a maré, num programa sobre o desafio de não abandonar a terra.
Há gente, mas pouca. A estrada é de terra e as ruas são estreitas. As casas de xisto estão degradadas. Não estamos no interior profundo, mas perto do Porto. Mais do que a distância, a falta de serviços e comodidades pode ditar o declínio de uma aldeia. “As pessoas foram-se afastando. Foram saindo para melhor”. As cabras continuam a ir ao monte e nascem cabritinhos. Ainda há esperança? É a primeira de quatro etapas com os repórteres do REC.
As cidades funcionam como um íman. Os portugueses que deixaram as aldeias, nas últimas cinco décadas, são três vezes mais do que a população de Lisboa. Não é uma fatalidade. É política. De concentração de emprego, fecho de correios, ausência de médicos, deficiência de transportes e comunicações. Estrada fora, em reportagem, o mais fácil é ouvir lamentos. A próxima paragem na zona de Abrantes.
Depois seguimos mais para o interior e encontramos projetos e persistência. Na aldeia histórica de Idanha-a-Velha, quatro milhões de euros de investimento resultaram num museu a céu aberto e na atração de muitos turistas. Nos arredores da Covilhã, descobrimos pessoas na força da vida que deixaram as cidades para voltarem à terra. “Em Lisboa faltava-nos qualquer coisa. Eu acho que era liberdade”. Voltamos a ouvir cabras. Do leite que produzem, com a ajuda de tecnologia, renasce o queijo de cabra artesanal. Há alternativas ao abandono.
Neste programa participaram Sara Pires e Bárbara Brochado, da Universidade do Porto; Joana Felício e Cristiana Bernardino do Instituto Politécnico de Tomar; Francisco Nascimento, Adriana Gonçalves e Pedro Lopes, da Universidade da Beira Interior; e Inês Freitas e Sofia Baptista, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A edição e apresentação é de Ricardo Morais, professor na Universidade da Beira Interior, com o apoio de José Ricardo Carvalheiro, também da Universidade da Beira Interior, e Miguel van-der Kellen, professor na Universidade Autónoma de Lisboa e formador no Cenjor.